sábado, 21 de setembro de 2013

Fim


Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Senti vontade de colocar este poema pra terminar com o blog oficialmente...
Depois de anos, o fim chegou.
E não há mais o que dizer.
Palavras não secaram, mas não são mais necessárias.
Prefiro o silêncio, na brisa fria dessa madrugada em que me sinto como nos dias antigos, sem sono, livre..
Como já profetizado, o mundo chegou a um ponto em que Deus não é mais necessário. E sem Ele não sobra mais nada, mais ninguém a ouvir..
Que os que tiveram a honra de conhecê-Lo, não se esqueçam do seu rosto, mesmo que por espelho.
Porque o viver apenas não é suficiente... Nunca será. Apesar da ordem, existe escolha?